As séries policiais nórdicas são sempre interessantes e instigantes – experimente ver O Assassino de Valhalla (Islândia) e Deadwind (Finlândia). O pano de fundo de uma história policial normalmente apresenta uma crítica social. E sempre há aquela pessoa praticamente invisível, que normalmente é quem acaba morrendo para então deflagrar uma investigação. A Reserva, da Netflix, é assim. É uma produção dinamarquesa, que mostra uma situação que eu nem sabia que existia. Você sabe o que é au pair? eu não sabia, e fui pesquisar. Em essência, o intercâmbio au pair é um esquema no qual o intercambista vai morar na casa de uma família-anfitriã, a host family. Lá, recebe alojamento e alimentação, além de um salário para trabalhar para essa família quase sempre cuidando das crianças. Em A Reserva uma jovem au pair é a vítima.
Cecilie (Marie Bach Hansen) leva uma vida aparentemente perfeita, dividida entre a carreira de sucesso, o conforto da vida de luxo e um casamento estável com Mike (Simon Sears). Em sua rotina, conta com a confiança e o apoio da dedicada au pair Angel (Excel Busano). No entanto, tudo começa a mudar quando uma jovem imigrante filipina que trabalha para os vizinhos bilionários desaparece misteriosamente. Intrigada, Cecilie se vê envolvida em uma jornada de revelações inesperadas que abalarão suas certezas e transformarão profundamente seu destino.
O que achei?
O sucesso de A Reserva deve ter surpreendido a própria Netflix. Afinal, a série teve um lançamento quase escondido. Foi o boa a boca que a transformou num dos títulos mais assistidos do serviço, em diversos países, incluindo o Brasil. São só seis episódios – ou seja rapidinha de ver – que tem um roteiro ágil, personagens interessantes, e um final que deixou muita gente revoltada (mas assim é a vida né?).
Além da investigação policial, a série mostra situações que a tornam muito mais profunda: disparidade de classes, exploração de mão de obra, masculinidade tóxica, bullying, e claro, racismo. E nesse último caso, não só com reação às au pair filipinas, mas também com relação à policial negra. Há uma cena especialmente chocante, com os sapatos da policial, que resume bem as diferenças. É feita na Dinamarca, mas tem temáticas universais. E o final, por mais que muita gente não tenha gostado, está totalmente em sintonia com o mundo em que vivemos. A resolução do que aconteceu com Ruby é até meio óbvia, mas a série é muito mais que isso.
Aliás, ouvi muita gente se perguntando, se pelo jeito que a história terminou, ela terá uma segunda temporada. A resposta é não (mas com esse enorme sucesso nunca se sabe). O diretor Per Fly deu entrevistas dizendo que a ideia era levantar debates sobre justiça e desigualdade com um desfecho claro. Eu posso dizer que ele atingiu seu objetivo.
