Eu sou enorme fã de Ney Matogrosso. Já tive oportunidade de ver shows, tenho discos, e admito sua história. Por consequência, estava bem entusiasmada para ver Homem Com H, que estreou essa semana no cinema. Gostei do filme, mas creio que não é para todos os públicos.
O filme acompanha a origem do cantor em Bela Vista no Mato Grosso do Sul e os constantes embates familiares em razão dos preconceitos de seu pai. Ao sair de casa e se mudar para São Paulo, Ney dá início à sua carreira artística. Com uma voz única e uma veia criativa e performática inesquecível, Ney Matogrosso compõe um terço da banda Secos & Molhados. Com eles, coleciona sucessos como Rosa de Hiroshima e Sangue Latino em meio à repressão da ditadura militar. E logo segue sua carreira solo. Passando por cada fase de sua vida, o filme mostra sua identidade revolucionária e arrebatadora, seu ímpeto libertário e sua inconfundível presença de palco.
O que achei?
Homem com H faz jus à carreira de Ney ( algo que, por exemplo, Meu nome é Gal não fez com Gal Gosta). Mostra o aspecto único de sua personalidade teatral, sua determinação de criar coisas diferentes no palco numa época em que isso era uma tarefa muito difícil. Começa mostrando sua infância, e também o período em que serviu o exército – e onde conheceu seu primeiro amor. É interessante ver como esse período demostra a personalidade forte que viria a ser reconhecida posteriormente. Também mostra os primeiros tempos de adulto, onde mesmo com os elogios à sua voz, Ney estava determinado a ser ator. O início dos Secos e Molhado é o momento em que ator e cantor se juntam criando um personagem inesperado e fora de qualquer padrão.
O filme aborda também todos os envolvimentos amorosos, inclusive com Cazuza. Ainda mostra a relação com o marido, que também morreu de AIDS. Ou seja, mesmo sendo um filme (e a história de Ney renderia uma boa minissérie), ele consegue ressaltar os momentos mais significativos de sua carreira e de sua vida. É claro que a parte mais recente da vida de Ney é praticamente só pincelada, sem grande aprofundamento. E sua longevidade mereceria um maior destaque. Mas é entendível colocar em destaque seu período mais diferente e transgressor.
E, no final…
Jesuíta Barbosa se entrega totalmente ao papel. É genial especialmente nas cenas de palco, como em Homem com H, Bandido Corazón, Rosa de Hiroshima (dublado sempre por Ney). Há momentos em que é impossível diferenciar ele e Ney. Entretanto em cenas do dia a dia ele está especialmente exagerado, o que gera um certo incômodo, assim como o sotaque nordestino que ele não consegue esconder, mesmo fazendo um carioca da gema. Ainda é preciso destacar que o filme tem várias cenas de sexo gays, que podem deixar alguns mais desconfortáveis. Mas são todas lindamente filmadas. É uma bela homenagem a Ney, que participou de todas fases da filmagem e também de sua divulgação.
