Talvez muita gente ainda se lembre do caso do avião que levava o time de rugby do Uruguai que cai nas montanhas geladas dos Andes – e os sobreviventes tiveram que comer carne humana para sobreviver. Essa história já foi contada no filme Vivos, de 1993. Já virou livro – Milagre nos Andes, de Nando Parrado, que eu tive o prazer de conhecer, e , inclusive me autografou o livro. Agora, chega uma nova adaptação, que tem o título de A Sociedade da Neve, que chega essa semana aos cinemas – e no dia 4 de janeiro na Netflix.
Trata-se de uma produção espanhola, dirigida por J. A. Bayona, de Jurassic World: Reino Ameaçado. Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, cai em uma geleira no coração dos Andes. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Estes ficam presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta. É quando se veem obrigados a recorrer a medidas extremas para se manterem vivos.
O que achei?
A fotografia é sensacional, assim como a trilha sonora. O roteiro e a direção nos levam a uma jornada extremamente tensa e desesperadora sobre a história dessas pessoas que realmente existiram. Há uma autenticidade surpreendente no filme, e o realismo é perturbador. Há uma cena em que a neve invade o que resta do avião, que é uma das mais perturbadoras que já vi em tempos recentes.
Os atores – pouco conhecidos – passaram por um tempo de provação em um local inóspito. Tiveram inclusive que perder peso para dar mais verdade aos seus personagens. Este filme é baseado em livro de Pablo Vierci , de 2009, e o roteiro de Bayona e mais alguns outros , traz soluções narrativas bem interessantes, como dar voz aos mortos, por exemplo. As cenas do desastre do avião também são impressionantes – só lembrando que Bayona também dirigiu o agonizante disaster movie O impossível, com Naomi Watts. Todas as cenas são viscerais.
Mas é claro que impossível não falar da situação do canibalismo. Na palestra que vi de Nando Parrado, ele toca só de leve no assunto. E aqui o diretor apresenta o assunto de maneira extremamente respeitosa. Não há sangue jorrando, nem mau gosto na descrição da situação. Tudo vira um drama psicológico, sobre a escolha de comer e não morrer. Tenho certeza que vai se impossível você não se emocionar em diversos momentos – especialmente aqueles a partir do momento em que encontram socorro.
A Sociedade da Neve foi indicado ao Globo de Ouro de filme em língua não inglesa. No Critics Choice concorre ao mesmo prêmio e também a trilha sonora. É um belo , mas difícil filme. Já aviso que tem 2h24 minutos de muita tensão, mas vale a pena.