Foi apenas um Acidente ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, o mesmo festival que deu o prêmio de direção e ator para O Agente Secreto. E agora na Temporada de Premiações é possível dizer que o filme é o grande concorrente de Agente Secreto na categoria de filme estrangeiro. Foi Apenas um Acidente, apesar de ser um filme passado no Irã e falado em iraniano, concorre pela França. Especialmente porque o diretor Jafar Panahi é persona non grata em seu país. Já foi preso por desafiar o regime, e agora teve novamente sua prisão decretada caso volte para o país (ele diz que voltará após a Temporada de Premiações). Já o filme é bom e sugiro que o veja nos cinemas – já está em cartaz.

Um mecânico chamado Vanid foi, certa vez, aprisionado pelas autoridades iranianas, interrogado de olhos vendados e torturado sem escrúpulos. Um dia, anos após os traumas do seu passado, um homem chamado Eghbal entra na oficina onde Vanid trabalha. Um acidente envolvendo um cachorro danifica o carro de Eghbal e o coloca no caminho de Vanid. Uma perfeita artimanha do destino que irá mudar por completo a vida de ambos. Vanid reconhece Eghbal como o seu torturador pelo som da perna prostética que ele ainda ouve nos seus pesadelos. Só que Vanid ainda tem dúvidas se ele é mesmo o cara, e se sim, o que fazer com ele. É quando o mecânico busca ajuda de outros prisioneiros para tentar descobrir se o homem com quem cruzou é, de fato, o agente do Estado que o dilacerou emocional e fisicamente. E cada um tem uma opinião.
O que achei?
A viabilização do filme já daria um roteiro interessantíssimo. Isso porque Foi Apenas um Acidente foi rodado em segredo no Irã, sem o ok das autoridades, o que é proibido. As atrizes não usaram o hijab, o que também é proibido. Policiais chegaram ao local quase no fim das filmagens e quase colocaram tudo a perder. E toda a pós-produção aconteceu na França para evitar a intromissão do regime na história. Isso já dá até uma profundidade maior à história, especialmente porque mostra pessoas que vivem num medo constante. Fala sobre vingança, repressão, e trauma coletivo.

Mas mesmo seguindo por caminhos tão profundos, o filme consegue ter uma certa doçura (especialmente na sua segunda metade), e até mesmo surpreendentes momentos engraçados. Com isso, consegue tornar essa aventura de vingança em algo mais palatável , diferenciado, e até com uma certa esperança (ou não). E repare, não há música no filme, o que deixa tudo ainda mais cru e intenso. Há vários momentos feitos com maestria pelo diretor, especialmente o clímax, quase no final (sem spoilers). O elenco, especialmente o ator principal Vahid Mobasseri, estão sensacionais. Destaque também para Mariam Afshari, como Shiva, a fotógrafa, que, como um amigo crítico, falou lembra muito a Glória Pires, rsrs.

E o mais interessante é que tanto este filme como O Agente Secreto fala de perseguições, regimes autoritários, e a luta pela liberdade. Muito curioso!









































