Adoro viajar, entretanto, isso às vezes, atrapalha a tarefa de assistir filmes e séries para escrever aqui. Com isso, acabo deixando de ver algumas coisas bem importantes. É o caso do minissérie House of Guinness, sobre os grandes produtores de cerveja, que está disponível na Netflix. Infelizmente, com minha viagem para a Flórida, acabei perdendo a série. Quero ver, especialmente depois do texto sobre a série que meu amigo José Augusto Paulo escreveu aqui para o Blog. Veja abaixo.
House of Guinness
Essa nova série na Netflix já começou a me interessar pelo seu nome. Afinal, usar House (Casa) era algo inicialmente reservado a dinastias reais. Mas, com o tempo, passou a ser amplamente a designar outras famílias da elite, e em boa parte económica e comercial, como no caso dos Függer de Augsburg. Fiquei curioso pois conheço a cerveja preta mais famosa do mundo. Só não imaginei que cervejeiros se tornariam em décadas membros da elite. E foi isso que os Guinnesses fizeram. Mas mais do que tudo, desde seu lançamento, a série gerou uma inundação de vídeos no YouTube.
Não só comentavam os mínimos detalhes de cada episódio como explicavam o que seria real e o que não. Vale esclarecer que a série se baseia no livro de Ivana Lowell (que era Guinness e que um dia achou que a estória de sua família era bem mais interessante do que a de Downton Abbey) . E cada episódio começava com o lembrete de que “esta é uma obra de ficção e baseada em fatos’.
Um pouco da história
O primeiro episódio da série começa com o falecimento de Benjamin Guinness em 1868. Vale lembrar que é uma produção do Reino Unido, mas com atores e parte técnica tanto irlandeses como britânicos, e filmada em ambos os lados do Mar da Irlanda. Desde o primeiro momento, ela vai trazendo à tona fatos poucos conhecidos para quem não vive na Irlanda ou que não viveu (ou leu) relatos daquelas décadas finais do século XIX. Para começar os Guinnesses, embora hoje seja um nome dos mais conhecidos símbolos da Irlanda, eram na verdade anglo-irlandeses. Ou seja, de famílias que vieram do Reino Unido.
Seu objetivo era explorar oportunidades comerciais ou agrícolas na Irlanda e Protestantes em meio a uma maioria mais pobre e católica. Construíram não somente a que se tornaria a maior cervejaria do mundo ( já exportavam para quatro continentes no final do século XIX). Eles também mantiveram a catedral anglicana, e compraram imensas propriedades tanto na Irlanda quanto no Reino Unido. Isso tudo enquanto enfrentavam tanto a hostilidade dos chamados Fenians (ativistas pela independência da Irlanda) quanto a desconfiança de algumas famílias anglicanas (afinal fizeram fortuna com venda de álcool)
A opinião
Nessa atmosfera tensa ( e que em parte ainda perdura no jogo de xadrez que são as interações anglo-irlandeses ate hoje) os criadores de Peaky Blinders criaram algo parecido. Tem cenas escuras, música moderna, palavras e textos estampados sobre algumas cenas, excelente fotografia, alguma violência e um realismo por vezes brutal. O objetivo é nos mostrar como os quatro herdeiros de Benjamin, Arthur (Anthony Boyle, cuja cena, na banheira, no episodio três gerou uma uma quantidade enorme de comentários), Anne (Emily Fairn), Benjamin (Fionn O’Shea) e o caçula Edward (Louis Partridge ).
Mostra como todos levaram a vida depois da perda do pai. E ainda como foi dividida a herança, e como a cervejaria continuou dali para a frente. Infelizmente a precisão de datas nem sempre é respeitada e casamentos e nascimentos parecem ocorrer fora do seu tempo real. Entretanto como drama a série funciona e muito bem. Lembra um pouco uma dobre os Medici outra fabulosa família da história, mas guardadas as suas devidas proporções. Como toda obra que se passe na Irlanda, tem sua dose de humor vinda da adversidade. Além disso, a capacidade de sobrevivência de certos personagens chega a parecer lendária, mas eram tempos difíceis e a resiliência era tudo.
E ainda…
Gente bonita, produção impecável (algumas das propriedades não existem mais e foram recriadas em estúdio). Uma curiosidade é que a Iveagh House, a principal casa dos Guinnesses em Dublin, é hoje o Ministério das Relações Exteriores que generosamente permitiram filmagens em seus salões. House of Guiness tem ainda atuações sólidas, bom ritmo de ações, e aquela vontade constante de se abrir uma garrafinha de Guinness. Tem suas pequenas falhas. Sugiro que vasculhe a Internet para saber mais sobre a vida real dos quatro irmãos assim como das propriedades, o beijo que não estava no roteiro, mas só causou frisson nos mais sensíveis, etc. Entretanto, o conjunto encanta e já estou ansioso pela segunda temporada.